(...) O vento agita as folhas das figueiras. Shobita dança para os convidados. Shobita dança, os homens estão um tanto embriagados, os ânimos se expandem, todos se sentem jovens e belos: tamanha beleza dançando para eles como nenhuma dançarina no mundo ousaria sonhar poder dançar.
Gostaria que Shobita fosse menos bela e menos talentosa, mais velha e cheia de tédio. Pensa Abraão.
- Pertences-me? Pergunta Abraão.
- Não. Também não me pertenço. Pertenço aos Deuses. Danço exclusivamente para eles, e, quando inspirada por eles, um fogo, incomparável a qualquer prazer me consome. Eu me consumo, eu me aniquilo. Responde Shobita.
- Divagas. Deus criou o amor para todos os homens e mulheres, já que multiplicam sua imagem.
- Não, Abraão. O amor é Deus. O absoluto que reside em nós mesmos. Aos homens, ofereço o arrebatamento, o desejo, o prazer. Levo-os à porta que precisam transpor para chegar ao amor, para irem até Ele. Só ele é o amor. Ele é o Amante Absoluto. Meu único Amante.* (...)
*Trecho do livro O Amante Absoluto, Éric Deschodt & Jean- Claude Lattés, editora Objetiva
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